segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

ELE NÃO TEM PREFERIDOS

















Chega a noite.
Hora antes dedicada aos meus livros, papeis, rabiscos e planos...
Hora em que todas as coisas morrem...
Hora em que qualquer tropeço é um estardalhaço.

Todavia, eu não quero mais me afogar nas letras;
Não insisto mais nas recapitulações infindáveis de esboços;
Não quero mais considerar e nem rebuscar

Na hora em que tudo morre, quero viver um pouco mais.
Mas estou tão cansado
E nem lembro da ultima vez que minha mente fervilhava tanto
Que mal podia dormir esperando amanhecer.

Ainda insisto fadigado por uma última prece quebrada
 "Por favor, traga de volta meu desassossego"

Não quero mais a quietude das lembranças da infância
Tornaram-se todas inérteis.
Como uma figura, uma imagem parada no tempo

Minhas orações são débeis e inconvenientes
Mas me apego na esperança de que não existe oração forte.
Há apenas pretensões e performances diante dos tolos.

Apego-me na esperança de que toda linha escrita vem da mão dÈle
Que toda vida e toda morte estão sob seu controle
E nas profundezas da desesperança faço eco com C.S. Lewes
Sabendo que, assim como o sol vem sobre todos sem distinção,
Ele não tem preferidos

Mas o sol não pode refletir num espelho coberto de cinzas
A mesma luminosidade que reflete num espelho limpo!

Ainda insisto, mesmo sendo fraco, pobre e pecador,
Num clamor obstinado, importunador e tenaz
Que antes que venha o sol , Ele me tire as cinzas.



Maciel 19/01/2015