terça-feira, 28 de abril de 2015

O PASTOR E O MENDIGO



Tenho uma lembrança da minha infância  tão forte em minha mente
Que acabou se tornando um sonho recorrente.
Eu preciso por pra fora, expressá-lo de uma vez...
Então permita-me contar, acontece assim:

Um homem muito nobre, alinhado, elegante, postado sobre o púlpito, 
Palestra  para uma igreja reverente, igualmente elegante, tradicional.
Num dado momento, ele para o sermão, olha fixo para alguém que está na porta;
Alguém que eu não consigo ver quem é

Como antes, as pessoas estão uniformemente reverentes, não há murmúrios.
Finalmente ele quebra o silêncio dizendo:"Claro que sim, a casa de Deus é a casa do todos"

Somente quando tal pessoa está próxima do altar eu consigo ver
Cabelos desgrenhados, roupas esfarrapadas, barba enorme,
Carregando um saco nas costas, sujo e mulambento.
Ele deposita o saco no chão, ajoelha-se, e com as mãos entrelaçadas, começa a orar.

O homem, acima dele, repousa o microfone sobre o púlpito,
também com as mãos entrelaçadas, curva a cabeça
e fica em espírito de oração durante todo o tempo em que o mendigo está ali.
A igreja acompanha em quietude o seu líder.

Logo após, ele recolhe sua sacola, vai embora, e o Reverendo continua a pregação.

Confesso que não lembro o tema do sermão, nem do teor do que fora dito naquela manhã
Na verdade, não lembro de nenhuma palavra além destas: “A casa de Deus é a casa de todos”

Mas lembro como o santo tratou o leigo
De como o correto tratou o desalinhado
A bondade com que o refinado lidou com o caótico
Da leveza com que o belo olhou o desajeitado
Lembro do convite feito do alto, como se não fora...

Atitudes de um homem que ficaram marcados em minha memória
De um tempo em que havia ética naqueles que se diziam sacerdotes
Quando havia temor no coração dos que subiam nos altares
Quando as pessoas que iam ao templo sabiam o que significava a expressão:
guardar os pés ao entrar na casa do Senhor"

Daí fico me perguntando, e se fosse hoje?


Que a Graça seja conosco
Maciel 28/04/2015







     












segunda-feira, 27 de abril de 2015

DE ONDE VEEM AS GUERRAS? (Salmo 2)




















Deus, acalma as guerras que me sobrevêm 
Aplaca a dores que cravam em mim como balas 
Os francoatiradores surgem de onde menos espero
Não há mais em quem confiar; meu coração sangra de decepção
Angustias ensurdecedoras zunem e explodem
Os ambientes de dentro e de fora tornaram-se campos minados
Não tenho paz nem no silêncio. Não consigo aquietar
Dói demais tudo que tem acontecido comigo
Os bombardeios tem sido tantos e sempre frequentes...

Momentos de pausa nada mais são do que iminências outra granada.
Então sinto meu chão tremer, dissolver debaixo de mim
 Sinto a dor como de mil fragmentos pontiagudos me acertando de uma só vez
 Estou exposto...entregue no chão;

Ainda tenho forças?... ainda para me debater.
Dos estilhaços faço a minha arma
Junto os pedaços de qualquer coisa boa na memória pra não enlouquecer
Minha cabeça gira, tento pensar mas só há branco, um enorme branco

Tomo na mão um punhado de esperança de um chão cinza e carmesim
De terra e de sangue faço essa mistura.
Meus dedos ficam cobertos com essa cor estranha
E se o que escrevo lhe causa estranheza, por favor, tenha um pouco de piedade;
Pois não me restou nada alem desse branco e essa tinta em minhas mãos.




Maciel 27/04/2015

terça-feira, 14 de abril de 2015

O LÚDICO, A CONSTRUÇÃO DO CAMINHO E A LEVEZA DA VIDA





O lúdico sempre me fascinou
Desde histórias dos heróis da fé
Que ouvia na infância nas aulas da Escola Bíblica 
Até as descobertas épicas nas páginas de C. S. Lewes,
Que me conduziram a vários mundos novos

Quando pequeno, eu desenhava os personagens
das revistas em quadrinhos, recortava-os
e brincava com meus próprios heróis de papel
Conto isso com toda a alegria do coração
Pois minha infância foi realmente cheia de fantasia e alegria.

Talvez o que tenha realmente me faltado
 fora alguém que me conduzisse ao mundo dos adultos.
Alguém que fizesse junto comigo essa translação.
Eu não achei o caminho das pedras,
Tive que caminhar e ir construindo e construí indo a caminho.

E foi adulto que, olhando para mim, não me vi.
Realizando uma auto auditoria não me reconheci.
E não foram poucas as vezes que me vi lutando contra mim mesmo.
Sim, pois, tornei-me tudo aquilo que sempre detestei
   
Espantei-me ao questionar certas coisas com Deus
Sendo eu aquele que já tinha terminado as próprias construções

E Ele tinha que responder...
Tinha que me dizer que era necessário desconstruir...
Que era necessário começar tudo de novo...
Nascer de novo...

Mas como eu já sendo velho na fé
poderia aceitar o fato do novo nascimento pra mim?
Logo pra mim, que já tinha uma imagem, uma história, uma bagagem?

Contraditoriamente, minha bagagem (aquilo que eu mais prezava)
Era justamente o que mais me pesava
Era uma carga muito grande pra eu carregar.
Eu tinha que depositar mas não sabia como.

Então ele me ensinou que histórias vão e vem
Que alto imagens também não devem ser idolatradas
Trocou o meu fardo pelo dele, que é leve.
Mostrou que devia ser como uma criança
Porque ele é meu Pai e cuida de mim.
E essa leveza vou levar comigo para o resto da vida.



Maciel 14/04/2015