Tenho uma lembrança da minha infância tão forte em minha mente
Que acabou se tornando um sonho recorrente.
Eu preciso por pra fora, expressá-lo de uma
vez...
Então permita-me contar, acontece assim:
Um homem muito nobre, alinhado, elegante,
postado sobre o púlpito,
Palestra para uma igreja reverente, igualmente
elegante, tradicional.
Num dado momento, ele para o sermão, olha
fixo para alguém que está na porta;
Alguém que eu não consigo ver
quem é
Como antes, as pessoas estão uniformemente
reverentes, não há murmúrios.
Finalmente ele quebra o silêncio dizendo:"Claro que sim, a casa de Deus é a casa
do todos"
Somente quando tal pessoa está próxima do
altar eu consigo ver
Cabelos desgrenhados, roupas esfarrapadas,
barba enorme,
Carregando um saco nas costas, sujo e
mulambento.
Ele deposita o saco no chão, ajoelha-se, e
com as mãos entrelaçadas, começa a orar.
O homem, acima dele, repousa o microfone
sobre o púlpito,
também com as mãos entrelaçadas, curva a
cabeça
e fica em espírito de oração durante
todo o tempo em que o mendigo está ali.
A igreja acompanha em quietude o seu líder.
Logo após, ele recolhe sua sacola, vai
embora, e o Reverendo continua a pregação.
Confesso que não lembro o tema do sermão, nem do teor do que fora dito naquela manhã
Na verdade, não lembro de nenhuma palavra
além destas: “A casa de Deus é a casa de todos”
Mas lembro como o santo tratou o leigo
De como o correto tratou o desalinhado
A bondade com que o refinado lidou com o
caótico
Da leveza com que o belo olhou o desajeitado
Lembro do convite feito do alto, como
se não fora...
Atitudes de um homem que ficaram marcados em
minha memória
De um tempo em que havia ética naqueles que
se diziam sacerdotes
Quando havia temor no coração dos que subiam
nos altares
Quando as pessoas que iam ao templo sabiam o que
significava a expressão:
“guardar os pés ao entrar na casa do
Senhor"
Daí fico me perguntando, e se fosse hoje?
Daí fico me perguntando, e se fosse hoje?
Que a Graça seja conosco
Maciel 28/04/2015